Sou filha de produtor de cana-de-açúcar, sempre estive em contato com a cultura e acompanhava meu pai todas as vezes que podia na Coplacana. Sempre quis fazer agronomia, me formar e trabalhar no setor. Fiz o vestibular e passei na Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz – Esalq, o meu curso e os estágios foram voltados para o agronegócio e a cultura da cana de açúcar.
Meu primeiro emprego foi na AFOCAPI, trabalhava no departamento técnico dando assistência aos nossos associados. Logo em seguida fui para Coplacana fazer receituário agronômico e atender os fornecedores, principalmente no controle de plantas daninhas.
Quando comecei a fazer isso, os fornecedores mais tradicionais ficavam meio desconfiados de como essa ‘’menina’’ iria fazer uma recomendação certa para controlar o mato nos canaviais?
Alguns fornecedores de cana, principalmente os mais antigos tinham uma certa resistência para o novo, dificilmente faziam algo muito diferentes. Ouvia uns falando que usou alguma coisa diferente que a Agrônoma tinha receitado e vinha todo desconfiado perguntando: Será que funciona mesmo? E se não matar? Olha Renata vou acreditar em você. Senão der certo venho aqui puxar sua orelha. Sempre foi uma relação muito amigável. Era super prazeroso encontrar com os fornecedores de cana nos eventos e eles agradecerem que tinha dado tudo certo.
Mas, contando assim, parece que era moleza. Convencer os ‘’turrões’’ mudarem de opinião e usar novos herbicidas, nematicidas, correção de solo com calagem ou gessagem era um trabalho de formiguinha com muita dedicação. Muitos dos fornecedores não queriam ser atendidos por mulher. Eles questionavam: Com ela que nunca trabalhou na roça vai orientar sobre a minha lavoura?
Teve um caso com meu próprio pai. Um dia falei ele que ele teria que usar uns herbicidas novos que estavam saindo e ele não aceitou de jeito nenhum. Aí falei faz o que o senhor achar melhor. Um belo dia ele foi falar com um primo meu, também fornecedor de cana e perguntou o que ele estava fazendo que as canas dele estavam limpinhas e verdes. Aí ele respondeu para meu pai: Estou fazendo tudo que a Renata me recomendou. Vai lá falar com ela.
Até que um dia meu pai me chamou e pediu para eu rodar a roça com ele e fazer a recomendação dos produtos para usar nas áreas. Olha, sempre foi complicado trabalhar num setor que a predominância é masculina. Temos que ter muita perseverança, determinação e cabeça firme. A discriminação é grande. Temos que mostrar todos os dias nossa força e provar que não somos só um rostinho lindo e um batom.
Agradeço sempre a oportunidade de começar minha vida profissional aqui na Afocapi e Coplacana que sempre me ajudaram e me apoiaram para meu crescimento profissional. Sempre incentivando a participar de todos os treinamentos, palestras e dias de campos.
Sempre encontro com “meus fornecedores” de cana que ainda hoje me param, me agradecem e me pedem orientações de como proceder. É uma satisfação tão grande que não tem explicação. Vale cada segundo vivido.
Crédito: Beatriz Martins – Química da AFOCAPI
Fonte: Renata Furlan Lopes, associada AFOCAPI